Nos dias de hoje, tem-se vivido um dilema social e educacional frente às discussões acerca da retomada das aulas presenciais de crianças e de jovens em meio a pandemia do COVID-19. Foi diante desta temática, que as alunas Glórya Vieira e Juana Barreto, da Liga Acadêmica de Direito da Criança e do Adolescente (LADCA) do Centro Universitário Tiradentes (Unit/AL) reuniram uma série de dados sobre a educação durante a pandemia da Covid-19.
De um lado, emerge a necessidade da volta da presencialidade, sob a justificativa da interação, comunicação direta, promoção da saúde mental e acompanhamento do processo de ensino-aprendizagem de crianças e adolescentes. Por outro lado, tal situação se materializa nos medos, anseios, conflitos e inseguranças, de pais, professores e coordenadores.
Nesse contexto, a família, enquanto agente socializador primário da criança, possui papel essencial no direcionamento e acompanhamento do aprendizado, visto que enquanto as instituições de ensino são responsáveis de forma preliminar pela disponibilização de informações para absorção, a família é fundamental para viabilizar a devida formação do indivíduo, construindo uma relação de dependência que, se quebrada, gera sobrecarga e dificulta o desenvolvimento geral do menor.
Nessa perspectiva, uma das principais preocupações é a evasão escolar, tendo em vista que uma porcentagem significativa de alunos apresentou dificuldades com os percalços do ensino à distância, principalmente na rede pública de ensino, como, por exemplo, a dificuldade de acesso à internet. Isto posto, na rede pública de ensino, cerca de 4,2 milhões de estudantes, apesar de matriculados, não receberam nenhum tipo de atividade escolar e, além disso, 1,38 milhões de alunos, com idades entre 6 e 17 anos, abandonaram suas instituições de ensino em 2020, conforme aponta o relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância no Brasil (UNICEF, 2021) e do Instituto Claro, que analisam dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Retomada das aulas presenciais na pandemia
Conforme a reportagem, de acordo com o estudo realizado por Elida Oliveira no ano de 2020, em que foi realizado um levantamento de dados acerca da opinião dos pais em relação à retomada das aulas presenciais no Brasil, o qual indica que 73,7% dos pais/responsáveis não levariam seus filhos à escola. Ainda, 94% desses ressalta que é imprescindível respeitar as normas sanitárias de distanciamento, higienização, uso de máscaras, dentre outras, para que seja possível a reabertura do modelo presencial (OLIVEIRA, 2020).
Já acerca do cenário da Rede Pública na pandemia de COVID-19, outra reportagem intitulada “60% dos estados monitoram acesso ao ensino remoto: resultados mostram ‘apagão’ do ensino público na pandemia”, na qual foi publicada pelo G1 no ano de 2020, retrata que os índices relacionados à rede pública de educação sofreu um fenômeno denominado de “apagão” do sistema de ensino durante a pandemia, em que os índices apontam que as atividades on-line não são assistidas por todos os estudantes, isso representa que, apesar do empenho das redes para levar o conhecimento, uma parte dos estudantes não têm acesso à educação durante a pandemia (G1, 2020).
Logo, é evidente que, para que seja viável retornar às aulas de forma presencial, faz-se necessário que haja uma adaptação também das instituições de ensino. De acordo com uma pesquisa acerca do retorno às aulas no pós-pandemia, realizada por docentes da Universidade de São Paulo e da Universidade Estadual de Campinas em 2021, seria essencial, para que possam ser criadas estratégias eficazes de aprendizagem, a realização de sondagens em pequenos grupos acerca do conhecimento dos alunos, para que assim identifiquem as necessidades específicas e consigam moldar em um plano de ensino efetivo.
Para mais, o retorno das aulas presenciais ainda demandará um fortalecimento da relação família e escola para adotar novas estratégias, pois, além do cumprimento dos protocolos sanitários, faz-se indispensável que haja um trabalho emocional como consequência do isolamento social que modificou a rotina de muitas pessoas, provocando, dentre outras coisas, instabilidade emocional, gerando, por exemplo, aumento da ansiedade, frustrações, insegurança, medo, episódios de pânico, tanto em educadores quanto em alunos e familiares.
Além das problemáticas que envolvem diretamente o ensino, a saúde é fator essencial para consideração na retomada das aulas presenciais, estando em uma situação de calamidade na saúde pública, é necessário analisar a viabilidade de um retorno seguro.
A Covid-19 na infância
Segundo a Folha de Pernambuco (2021), grandes metrópoles, como São Paulo e Curitiba, tiveram um aumento considerável nos dados quanto ao número de crianças infectadas por Covid-19 e outros vírus respiratórios no primeiro bimestre deste ano. No maior hospital pediátrico do país, o Hospital Pequeno Príncipe, localizado em Curitiba (PR), observou-se que apenas no primeiro bimestre de 2021 existiram quase o triplo de casos de crianças contaminadas com o coronavírus em comparação ao ano anterior, sendo de 72 contra 21.
A matéria da Folha de Pernambuco (2021) também traz opiniões de especialistas sobre a retomada, como Wallace Casaca, coordenador do Infotracker, projeto da Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Estadual Paulista (Unesp) que monitora a pandemia, que considera haver, segundo os dados apresentados, uma relação entre a abertura das escolas e um maior número de internações infantis pela Covid. Entretanto, há especialistas na área, como o médico infectologista pediátrico Victor Horácio de Souza Costa Júnior, do Hospital Pequeno Príncipe, que descartam essa hipótese e afirmam ser possível esse retorno seguro, se as instituições de ensino e familiares realizarem um trabalho conjunto de cuidados.
Vê-se que relação entre o retorno das aulas presenciais e a maior proliferação do Covid-19 ainda é incerta, portanto, a família deverá fazer seu papel para evitar o máximo possível as chances de contaminação, tanto de seus familiares e colegas, quanto dos profissionais da educação responsáveis pela formação dos estudantes. Para auxiliar nesse processo, é imprescindível que escolas e pais dialoguem em todas as fases e expliquem, de forma lúdica, conforme a faixa etária, sobre essa nova fase da pandemia e a necessidade de manter os cuidados com a higiene (lavar as mãos, utilizar máscara e álcool em gel).
Vale ressaltar também, a relevância da instituição disponibilizar um espaço para que os professores, pais e alunos expressem suas experiências com este retorno, visto que é uma momento que desperta muitas emoções, e além da saúde física, a mental é de igual importância. Espera-se também, que com um maior preparo em relação ao ano anterior, que a taxa de evasão escolar diminua e que a segurança dos indivíduos aumente quanto ao ensino.
Por Glórya Vieira e Juana Barreto – Liga Acadêmica de Direito da Criança e do Adolescente